O sofrimento é o grande enigma da vida. O mundo de hoje está sobrecarregado de reportagens de vítimas de desastres. Sofrer não é apenas um mistério da vida humana, porque todas as criaturas que respiram se confrontam com esta realidade ardente. Os animais fazem os possíveis para o evitar. O mesmo fazem os seres humanos, mas nós vamos mais longe. Reflectimos sobre o seu significado. Atrevemo-nos a perguntar porque é que é assim. Cientistas, académicos, teólogos, artistas e poetas reflectem sobre o seu próprio sofrimento e todas as dificuldades que experimentamos.
Porquê? Questionam-se. Porquê? Perguntamos nós. Não é uma questão nova, ainda que hoje nós tenhamos melhores meios para controlar a dor, para lutar contra ela. É possível vencer o sofrimento? Não. O sofrimento tem a última vitória. Mas será que sim?
Todos os sistemas filosóficos lutaram com este problema. Todas as grandes tradições culturais ou cada narração lembra-nos que estamos sujeitos à perda. Os antigos dramaturgos gregos inventaram histórias comoventes que ainda hoje nos fazem chorar, e nós tomamos as suas palavras de empréstimo para descrever o forte ataque da desgraça arrasadora.
Ao procurarmos uma saga emocionante de aflição e adversidade expressa nas Escrituras lemos o livro de Job, que é uma figura lendária numa história expressa de forma poética. Ao princípio, tudo é sol brilhante e prosperidade para Job. Job é feliz e afortunado. E então começa o relatório. Bois e mulas, ovelhas e pastores, camelos e os que tomavam conta deles, todos estão perdidos. Os ouvidos de Job ouvem este estribilho da boca de cada mensageiro: “só eu escapei para contar o que aconteceu” (1: 15, 16, 17). Finalmente chega a tristeza principal: os sete filhos de Job e as três filhas morrem porque uma casa cedeu à força de uma ventania poderosa. E até o próprio Job é assaltado por feridas graves. Tudo isto nos capítulos um e dois. Job infeliz e desafortunado. Depois, seguimos o debate ente Job e os seus amigos que o reprovam; ouvimos Job, na sua miséria, a falar do Senhor como sábio e forte (9: 4). E ouvimos a voz de Deus no meio da tempestade.
Finalmente, chegamos à conclusão: Job é justificado. Tudo é restaurado e mais do que restaurado — ovelhas, bois, camelos são acrescentados em muito maior número. E mais sete filhos e mais três filhas! O mesmo número de filhos e a mesma proporção de rapazes e raparigas. Eu desejaria que o autor nos tivesse deixado ver Job a lembrar-se dos seus primeiros dez filhos, lembrando-se de como os tinha amado e os tinha perdido. Ao olhar para este segundo grupo de filhos, teria ele dito para si mesmo: “Ela sorri como a irmã mas velha; os olhos deste fazem-me lembrar os do seu irmão que morreu”?
Nós perguntamo-nos: Porquê? Porque é que nós perdemos aqueles que amamos? Porque é que acontecem as catástrofes? O Livro da Consolação, de Isaías, começa com estas palavras “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus.Falai com ternura (40: 1,2)... porque és precioso para mim, és digno de estima e ... eu te amo” (43: 4). Este mesmo Deus reconhece: “Eu te provei na fornalha dosofrimento. Por minha causa, só por minha causa é que eu fiz isso” (48: 10,11). Finalmente, Isaías descreve como o Senhor lida com os que estão enredados na tragédia. “(Deus) que se compadece deles conduzi-los-á e os guiará para ondehá fontes de água.” (49: 10). “Montanhas, rompam em aclamações, pois Jahvéconsola o seu povo e se compadece dos seus pobres” (13); “...dor e afliçãoficarão para trás” (51: 11). “Com amor eterno, eu me compadeço de ti, dizJahvé, o teu redentor.” (54: 8). Que mensagem nos é dada por Isaías!

Isaías descreve uma viragem completa e total. Parece que nos está a dizer que a angústia nas nossas vidas nos dá direito a uma nova alegria. Este é o trabalho da graça que nos ilumina na nossa aflição. A graça desperta novas capacidades para reconhecermos a presença de Deus na nossa dor, e nessa presença está a semente da paz actual assim como da futura felicidade.
À medida que a morte se aproximava, Santa Teresa de Lisieux resumiu assim a sua pequena vida de vinte e quatro anos de existência humana: “A minha vida não tem sido amarga, porque eu sabia como mudar toda a amargura em algo alegre e doce” (Últimas Recordações). Este conhecimento Teresa adquiriu-o não desde o princípio mas através das lutas, que cada um descobre à medida que a vida se desenrola. Isto não quer dizer que Teresa não chorasse como nós quando estamos a viver as dificuldades e a tragédia. Mas a fé e a esperança animam os nossos corações mesmo quando as lágrimas caem. Porque tudo o que perdemos nos será dado de novo quando a eternidade surgir, e o dar-nos conta disso traz luz à escuridão da agonia terrena.
“Alegrar-me-ei e ficarei alegre na Tua bondade, pois viste a minha miséria e olhaste por mim na minha aflição” (Salmo 31: 8)